quinta-feira, 11 de março de 2010

Missionários em Moçambique

Há poucos dias foram enviados em nome da igreja do Rio Grande do Sul, quatro missionários, para Moçambique, na África. Dois deles, o casal Edemilson (Edê) e Camila, são de nossa diocese. A Camila enviou um email falando das primeiras impressões do local. Com certeza é uma lição para todos nós.

Minha experiência aqui tem sido muito diferente de tudo que já havia vivido. Ontem tive o primeiro contato mais próximo com o povo daqui e uma frase conhecida, por ser de uma música, ficou em minha mente:
“Jesus Cristo me deixou inquieto com as palavras que ele proferiu, nunca mais eu pude olhar o mundo sem sentir aquilo que Jesus sentiu.”
Não sei se é bem assim a letra, mas a idéia central é essa. Fomos conhecer os meninos que vivem num lar para vocacionados. Foi uma visita simples, com o objetivo de conhecermos os meninos, ouvir suas expectativas e necessidades, a fim de desenvolvermos um possível trabalho na casa, mas a profundidade da falas é indescritível. Algo sentido, que durante muitos momentos segurei a emoção e não sei se palavras darão conta de expressar. Respondiam nossas perguntas com uma certa timidez e nos contavam de sua vida simples: da dificuldade de estudar num país onde o sistema de ensino, de modo geral, é corrupto (assim como os demais sistemas do governo). O professor cobra de cada aluno uma certa quantia de 5 a 15 meticais (moeda local) para que possa fazer as provas. Alguns professores cobram para que o aluno passe de ano; o valor cobrado vai de uma galinha até uma noite com uma aluna. Se não paga “chumba”, termo usado para quem repete de ano. Cada turma tem cerca de 90 a 115 alunos em sala, todos sentados no chão, sem classe ou cadeira.
Nos pediram uma bola de futebol, uma latrina, quitandas (camas feita de madeira e cordas de palhas), cadernos e canetas para escola, já que estavam desde janeiro sem esse material, tudo tão simples. Distribuímos pastas que a Tati e o Pe. Maurício ganharam no Mutirão de Comunicação América Latina e Caribe contendo: caneta, cadernos, um boné, um caderno de desenho e uma camiseta. Vocês conhecem a alegria de uma criança que recebeu tudo que mais queria, eu nunca tinha visto. Aí no Brasil, as crianças e adolescentes que conheço, por mais pobres que sejam jamais se alegrariam com tão pouco. Foi uma alegria tão sincera que eram incapazes de controlar o riso.
Mais tarde, longe deles, Edê e eu choramos. Estávamos tocados pela experiência vivida, emocionados, envergonhados pelas queixas que fazemos e pela vida que vivemos até o momento.

2 comentários:

  1. Que testemunho bonito! Que coragem desta gente.

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  2. Que bênção para a Igreja com pessoas que tem essa disponibilidade para a missão.

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